Era a vírgula que faltava
Por Diego Nascimento*
Semana passada, ao caminhar pelas ruas da cidade, fui atingido por um profundo golpe de decepção: perto do mais tradicional centro de comércio havia um cartaz que tratava da promoção de um determinado produto, mas esse não era o problema. A ausência de uma vírgula no texto mostrava uma afronta ao uso correto (e básico) da Língua Portuguesa. Imediatamente recordei de uma professora que tive, ainda no ensino fundamental, que era tão zelosa com a gramática que certamente estaria dentro de uma ambulância (risos) depois de ver aquela inocente propaganda.
O que pouca gente percebe no cotidiano profissional, relacional e acadêmico é que a comunicação falada e escrita exerce um impacto direto e indireto em tudo o que é feito. Conheço casos em que um bilhete mal escrito, colado na geladeira, quase resultou em divórcio. Tudo por causa de uma grande personagem: a vírgula. Amiga de alguns, inimiga de outros, esse sinal de pontuação exerce três missões básicas quando aparece: prevenir o vício de linguagem, separar ou mesmo dar ênfase em orações/frases e oferecer uma leitura com real sentido quando feita em voz alta.
O professor Richard Nordquist*, renomado autor de livros-texto sobre gramática e composição, certa vez contou em um de seus artigos que o jornal Toronto’s Globe and Mail, na edição de 6 de agosto de 2006, trouxe uma matéria que falava de um erro gramatical no contrato de parceria de uma renomada empresa canadense. Uma vírgula colocada no local errado do documento abriu margem para um processo judicial que poderia resultar no prejuízo de US$ 2 milhões de dólares para a corporação. Tudo por causa de uma vírgula. Entende como o assunto é sério?
Para proteger a integridade da loja em que testemunhei o fato, oferecerei um exemplo fictício de como a dona vírgula pode mudar tudo. Veja:
Carlos Antônio e seus vizinhos estão conversando sobre a prefeitura.
Carlos, Antônio e seus vizinhos estão conversando sobre a prefeitura.
Na primeira frase, temos a ideia de que Carlos Antônio é apenas uma pessoa. Na segunda, pontuada de forma correta, entendemos que Carlos está na companhia de Antônio (são, na verdade, duas pessoas).
O próximo exemplo é clássico em grupos de WhatsApp:
Não queremos pagar.
Não, queremos pagar.
Na primeira alternativa, o interlocutor recebe uma afirmação de que o pagamento não será feito. Ao inserirmos a vírgula no lugar certo, percebemos que a intenção é contrária, ou seja, quitar o débito.
São situações assim que, recorrentes na comunicação escrita (bilhetes manuais, e-mails, textos digitados, postagens em redes sociais, etc.), trazem muita confusão para os relacionamentos. Chega a ser perigoso. Sendo assim, quero convidar você a manter os olhos abertos quando for se comunicar. O mundo já está bem conturbado e precisamos fazer a diferença em tudo. Na próxima vez que enviar uma mensagem de texto, leia e releia o conteúdo. Nem sempre você escreve da mesma maneira como fala.
Até breve!