Personalidade Gammonense Paulo de Souza (in memoriam)

Paulo de Souza

Hoje vamos retratar um ex-aluno que foi e sempre será um orgulho para o Instituto Presbiteriano Gammon.

Colaborou conosco a sua esposa Terezinha Camisão de Souza, os filhos José Camisão de Souza e Olga Camisão de Souza, e o ex-aluno Marcus Vinícius Arantes, autor de vários livros, dentre os quais o “Abram Alas, Estudantes!”, do qual retiramos vasto conteúdo sobre a vida de atleta desse ilustre, eterno e lembrado gammonense.

SUA  HISTÓRIA

Paulo de Souza nasceu no distrito do Macaia, município de Bom Sucesso-MG, em 27 de abril de 1924. Ao se mudar para Lavras em seus primeiros anos de vida, o que o tornou um lavrense de alma e coração, iniciou seus estudos no então Grupo Escolar Álvaro Botelho, hoje Escola Municipal, mas sempre olhando para o futuro, transferiu-se para o idolatrado Instituto Presbiteriano Gammon. O sonho de ser gammonense logo se realizou!

Com a filha Olga no colo , em 1958

E assim começa uma brilhante trajetória acadêmica e esportiva de mais um ilustre gammonense, que era o mais velho dos irmãos, que tinha ainda Maurício, Fausto e Marcelo, de quem herdaram a trajetória esportiva.

Paulo de Souza casou-se em 1951 com Therezinha Camisão de Souza, com quem teve os filhos: Cristina, Déborah, Paulo, Olga, José, Arquimedes e Alvaro (Vico). Todos eles, gammonenses.

Aqui, uma curiosidade: teve um ano em que Paulo de Souza matriculou simultaneamente os sete filhos: desde Cristina, a mais velha, no último ano do Científico (que corresponde atualmente ao 3º ano do Ensino Médio), até Vico, o mais novo, no Jardim de Infância (correspondente à Pré-Escola).

UMA  EMOÇÃO

Abrimos um parênteses para apresentarmos uma crônica de Paulo de Souza dedicada a um de seus filhos:

Ao meu filho

De repente me vi sentimental ao ver a bandinha do meu colégio. Chorei de alegria e gritei: “Gammon, Gammon, Gammon!”. Com o rosto molhado pelas lágrimas e pela chuva que caía naquela tarde chuvosa, naquele estádio monumental, quando se comemorava o “Dia da Criança”, chamei bem alto o nome do meu filho Arquimedes…

O querido Meco – de chapéu verde com penacho – marcava o compasso no seu bumbo, que de tão grande obrigava seu corpinho para trás, compensando o peso não sentido pelo entusiasmo da marcação.

As lágrimas, a chuva, me veio um sentimento esquisito, um misto de saudade e alegria, orgulho da fantasia verde do meu filho, que apesar de enjambrada, garboso me parecia.

O ambiente alegre, esportivo, evocava minha mocidade. E eu chorava e gritava. Afinal me vi sentimental.

O  ESPORTE

Como atleta, Paulo de Souza estabeleceu em 1944, o recorde gammonense no salto com vara, com a marca de 3,30m nos treinos oficiais para as competições da Semana do Instituto. No mesmo ano, ele bateria seu próprio recorde na Olimpíada Universitária, disputada em Belo Horizonte, com a marca de 3,64m. Paulo também competiu na mesma Olimpíada na prova do salto triplo, alcançando 12,19m, tendo estabelecido o recorde gammonense. O atleta já havia sido recordista neste mesmo ano, ao atingir a marca dos 11,51m.

Ainda em 1944, Paulo de Souza fez parte da equipe recordista do revezamento 4x100m, resultado que também viria a se repetir por duas vezes no ano seguinte.

Em 1947, Paulo de Souza alcançaria um outro recorde no salto com vara, desta feita nas eliminatórias para o Campeonato Sul-Americano de Atletismo, realizado em Santiago, no Chile, com a marca de 3,84m.

Campeão sul-americano universitário em São Paulo, campeão mineiro e brasileiro universitário no salto com vara, Paulo de Souza foi também corredor e saltador (triplo), jogava basquete e futebol.

Depois de abandonar as pistas, o atleta ainda continuou ligado ao esporte gammonense, tendo chefiado delegações do IPG em várias competições, dentre elas, os Jogos Abertos de Poços de Caldas e os Jogos Abertos do Interior de São Paulo, além de vários campeonatos em Belo Horizonte.

Paulo de Souza – Salto em Vara

VIDA  PROFISSIONAL

Paulo de Souza também teve uma carreira brilhante na vida profissional. Sua argúcia e inteligência, desde cedo, o impeliu a desbravar novos caminhos. Ainda muito jovem, conheceu o prof. Klaus Fest, pai de Fausto Delanne Campos Fest, o Buca, um gammonense de coração que até os dias de hoje se faz presente em todos os eventos comemorativos do Gammon.

O prof. Klaus era professor na então ESAL (Escola Superior de Agricultura de Lavras), hoje UFLA (Universidade Federal de Lavras), e administrava o Campo Experimental de Café, que lá existia na época.

Paulo de Souza observava atentamente tudo que o prof. Klaus fazia, procurando assimilar as técnicas e todos os procedimentos práticos do cultivo do café.

No início dos anos 1950, após concluir o curso de Agronomia na ESAL, Paulo de Souza foi para os Estados Unidos, onde fez o mestrado na Universidade do Maine.

Durante sua permanência por lá, encontrou-se com o prof. Walter Sauer, também da ESAL, que da mesma forma estava naquele país. A convite do docente, Paulo de Souza foi passar o Natal com sua família em Raleigh, capital da Carolina do Norte. A exuberância do verde do local, em contraste com o frio do Maine, o encantou.

Tempos depois, Paulo de Souza voltaria a Raleigh, onde fez o PhD na Universidade Estadual da Carolina do Norte (NCSU). Durante seu curso, recebeu bolsa da Fundação Ford e foi membro da Sigma Xi Association, em função de desempenho superior como estudante. A sua experiência internacional se completaria mais tarde quando fez estágios profissionais na Inglaterra.

Sua carreira profissional no Brasil começou na cidade mineira de Itabira, onde dirigiu uma estação de pesquisa.

De volta a Lavras, Paulo de Souza foi dirigir o Campo Experimental de Café da ESAL, continuando os experimentos de seu “guru”, o prof. Klaus Fest.

Nessa época, o Campo havia sido promovido a Subestação Experimental de Agricultura, órgão federal ligado ao Ministério da Agricultura (MAPA), cujos terrenos eram confrontantes com os da ESAL.

Como Klaus Fest, Paulo de Souza acabou tornando-se, além de pesquisador e cientista, professor da ESAL na área de Fitopatologia.

Na Subestação Experimental, de conceito multiculturas, fez o trabalho de extensionista e pesquisador, ajudando produtores da região e de todo o Brasil.

Paulo de Souza produziu inúmeros trabalhos científicos que projetaram seu nome na área da Agronomia no Brasil.

Ainda como atividade profissional no país, Paulo de Souza foi consultor de empresas, orientou pesquisas na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e atuou em várias frentes no Governo Federal.

No Ministério da Agricultura, no qual foi assessor de vários ministros e secretários nacionais (Cirne Lima, Delfim Neto, Moura Maia), acabou sendo designado ao posto de secretário nacional da Produção Agrícola, entre 1986-1987.

Como representante do país, atuou neste período em várias missões internacionais na América do Sul e no Caribe.

Participou do Conselho de Segurança da Amazônia e atuou na tentativa de estabelecimento de culturas de cana-de-açúcar e café na região de Altamira, no Pará.

Nos seus últimos anos na ESAL, em parceria com a iniciativa privada (Fundação Sarah Salim Maluf), ajudou na montagem e funcionamento do Laboratório de Fitopatologia, assim como na pesquisa de produtos comerciais para plantas a partir de resíduos industriais.

Sua grande vocação para o trabalho com a terra, o fez comprar um sítio nas proximidades de Lavras, onde construiu uma espaçosa casa e cultivava frutas de qualidade, pois sendo doutor em doenças e plantas, conseguia sempre belos frutos.

Paulo,Fausto , Marcelo e Mauricio

Manteve contato contínuo com o meio científico americano e mundial e continuava a produzir seus trabalhos, com abordagens inovadoras.

Recebia consultas do exterior sobre seus trabalhos e foi eleito “Outstanding Scientist” (Cientista Destacado) pela revista Scientific American, uma honraria restrita a poucos.

Mesmo depois de aposentado, recebeu um convite especial por ocasião da cerimônia de aposentadoria de seu orientador na Universidade da Carolina do Norte, para a qual foi convidado por ter sido escolhido pelo mesmo como seu melhor orientado.

O  ADEUS

O final da vida de Paulo de Souza foi em Lavras. Acometido por um câncer, ele, que sempre teve uma saúde de atleta e abominava hospitais, precisou ser submetido a várias intervenções cirúrgicas e tratamentos, que terminaram por consumi-lo.

O grande atleta e cientista de mente brilhante faleceu em 1997, aos 73 anos de idade, deixando um legado de inestimável valor à ciência de nosso país.

Para nós foi um prazer enorme podermos descrever um pouco do que Paulo de Souza, esse imortal gammonense, representou para Lavras, para Minas Gerais, para o Brasil e para o mundo.

“Um grande pai sempre está presente na vida daqueles a quem deu a vida: seus filhos!”.

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