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Um pouco de tudo de uma vida intensa de nossa
querida Prof Yonne Fantazzini pela delicadeza de sua filha Karol Salum

Receber uma tarefa de escrever sobre a própria mãe, não é
algo fácil embora mamãe não fosse uma pessoa difícil, complicada ou misteriosa,
muito pelo contrário, era uma pessoa simples, amiga e amorosa… Mas me vejo em
frente à tela do computador, com muitas lembranças, datas, momentos sem, no
entanto, conseguir conciliar os fatos…

Essa tarefa eu recebi da amiga jornalista Dalva Sueli, que
fiz com muita alegria e será publicado no site que eu leio todos os dias: www.dalvasueli.com.br

 

A MÃE QUE EU GOSTARIA DE SER

Eu gostaria de ser a mãe
que amasse, muito amasse..
mas que nunca, nunca
machucasse. 

            Eu gostaria de ser a mãe
            que tudo soubesse dar,
            tudo, tudo, sem nada ocultar. 

Eu gostaria de ser a mãe
tão amiga e tão capaz
de dar paz, e tão- somente
a paz! 

              Eu gostaria de ser a mãe
              que lições soubesse dar,
              porém, mas ainda praticar. 

Eu gostaria de ser a mãe
nem quadrada nem pra
frente,
mas apenas do presente. 

               Eu gostaria de ser a mãe
               generosa que atendesse,
               que entendesse,
               concebesse,
               percebesse e  
               resolvesse
               o que for, sem nenhum
interesse. 

Eu gostaria de ser a mãe
carinhosa,
cuidadosa,
orgulhosa,
amorosa e
dedicada para ser dos
filhos muito amada. 

                Eu gostaria de ser a mãe
                compreensiva e também
exigente,
                persistente,
                consciente,
                paciente,
                contente
                de meu filho ser também um
crente. 

Eu gostaria de ser a mãe
otimista,
altruísta,
idealista,
realista
na conquista de vitórias,
no sofrer de todas as
inglórias. 

               Eu gostaria de ser a mãe
               para quem o que é direito
               e perfeito
               ser aceito
              é preceito
              e jamais apoiar o suspeito.

Eu
gostaria de ser a mãe
que
aos meus filhos ajudasse,
educasse,
ensinasse,
e
para Deus somente os preparasse. 

Mamãe nasceu no dia 03 de julho de 1930 em Macaia,  município de Bom Sucesso, filha de Antônia
Queiroz Siqueira e Sylvio Siqueira.. Era a segunda de quatro filhos, Lenita, ela,
Jack , e Jessemon Delane.  

Começou seus estudos ainda em Macaia, com d. Henriqueta
Vitorinha Maia,  mas como só havia os primeiros
anos, ela veio para Lavras ficando interna por um período no internato da
Escola Carlota Kemper. Como era caro manter os filhos no internato, meus avós
então se mudaram para Lavras, isso em 1944.

Ela faria o curso ginasial  e depois o Normal em 1949 se qualificando
para dar aulas.  

Mamãe em 1949

Foi a primeira turma de Normalistas que se formou e
inaugurando também o auditório Lane-Morton.

Exerceu a profissão inicialmente na escola que funcionava
na Fazenda do Registro de propriedade do  Aureliano Souza Pinto, o Sr.Lito. Ela chegou a
morar na fazenda por um período .

Em março de 1951 começou a dar aulas na Escola Carlota
Kemper, no curso Primário.  

Turma do 3o. ano primário no Kemper

Na sua juventude participou de esporte, jogando no time
de vôlei do Colégio, e onde  conheceu
aquele que seria seu companheiro até o fim, Tarley Fantazzini que também era
esportista e jogava futebol no colégio e na cidade.

Depois de um período de namoro, eles se casaram em 03 de
dezembro de 1953, fixando residência à rua Ferreira e Costa onde eu nasci em
1955. Mateus viria seis anos depois em 1961.

Em 1972 ela se forma na FaFi- Faculdade de Filosofia, na
área de Letras.

Formatura da FaFi, com Nely Furbeta

Lembro-me de ser
um período difícil para ela, tentando conciliar as diversas atividades durante
o dia. Aulas para serem dadas pela manhã, corrigir os deveres dos alunos, o
serviço de dona de casa,  a faculdade e
seus trabalhos no período noturno, isso sem contar os imprevistos que sempre
aconteciam….

Na época de suas provas, ela copiava a matéria em folhas,
pregava na parede da cozinha e estudava enquanto cuidava do almoço e etc…

Mas em nenhum momento a vi fraquejar ou desistir…

Em dezembro
daquele ano então, ela faz parte da primeira turma a se formar na Faculdade
tornando-se apta para dar aulas no segundo grau.

Com o casamento dos filhos, dali alguns anos vieram os
quatro netos que foram sua grande paixão. Eu sempre morei fora de Lavras e  passar uns dias comigo e os netos Alberto e
Renato, era para ela puro deleite.

Foi uma avó
extremamente zelosa com os netos Tatiana e Tarley, ajudando-os diariamente nas
tarefas escolares durante todo o Primário. Nos períodos de férias escolares
então, quando ajuntavam os quatro  em
Lavras, ela se sentia realizada… Não sabia o que fazer para agradar a todos
eles.

Exerceu sua profissão com muito profissionalismo e,
sobretudo com muito amor.

Envolvia-se com os alunos e seus problemas. Chegava às
vezes a voltar ao Colégio fora de seu horário para auxiliar na aprendizagem de
algum que tivesse mais dificuldade. Estava sempre procurando novidades, uma
maneira didática de expor a matéria e facilitar ao aluno de gravar o que era
ensinado. Gostava de levar recortes de jornal ou revistas com notícias atuais e
pregar em um mural na entrada do prédio de aulas.

Incentivava a
todos, procurando extrair de seus alunos, o que de melhor eles tinham e muitas
vezes se aprofundava procurando auxiliar aqueles que ainda não haviam
descoberto suas preferências que os norteariam para a vida profissional.

Em Nov de 1995, ela é homenageada em uma página, pela
aluna e jogadora de vôlei Ana Paula Rodrigues numa conhecida revista da área de
Educação “ O modelo da jogadora-poeta”.

Sempre a via envolvida em procurar novas técnicas,
didáticas, fazendo cursos se atualizando, em Porto Alegre quando ali moramos um
tempo, em  S.Paulo, em Campinas…

Ela e a colega e amiga Marta Ribeiro, num domingo na praça

Sempre foi uma mulher de muita fé. Frequentou durante
toda sua vida, a Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras, onde também
exerceu  funções de professora de Escola
Dominical para os adolescentes e jovens, visitas aos doentes, participou do
coral durante alguns anos, e junto com uma amiga d. Cordelina, em  visitas domingueiras regulares à moradores na Vila
S.Francisco, acabou originando ali, em 1962, o lançamento dos alicerces  para um novo templo.

Foi uma pessoa muito simples e altruísta, que não
hesitava em tirar do próprio salário para ajudar alguém na compra de algo que
estivesse precisando.  

Gostava muito de ouvir música clássica e sempre que
podia, colocava suas coleções de LPs na eletrola da sala e a música então
envolvia nossa casa.

Estava sempre procurando novas receitas e nos fins de
semana, o cheirinho de quitutes vindo da cozinha, era uma constante…

Flores, como ela gostava de flores… havia sempre uma
jarra com antúrios, ou gérberas, ou a ave do paraíso na mesa da sala de jantar.
Depois foram as  orquídeas que papai
comprava de um fornecedor que o abastecia regularmente.

Ela passou um período de vários anos muito difíceis,
inicialmente com a doença da minha avó e depois com papai. Foi uma época muito
delicada, envolvendo cuidadoras em todo o tempo, médicos, onde o apoio  do primo e farmacêutico Ennio Siqueira Mendes
foi uma constante, remédios controlados, viagens a Belo Horizonte, São Paulo. Ela
sempre presente, disposta, renunciando a muitas coisas para dar uma total
dedicação.

Mamãe, papai, e os quatro netos Alberto, Tatiana, Tarley e Renato

E foi assim,
durante toda sua vida, procurando ajudar, procurando ser útil, procurando
acrescentar algo na vida de pessoas…

Quando ela adoeceu e fui visitá-la no CTI do Hosp Vaz
Monteiro, a enfermeira que cuidava dela, se aproximou e me disse que “ mamãe
era uma senhorinha muito especial, pois não reclamava e não era grosseira com
ninguém” .Que ela estava um dia fazendo sua higiene, e as duas conversando,
tentando descobrir onde já haviam se encontrado, pois as feições eram
familiares…Então a enfermeira se lembrou de um dia quando ela estava no
ônibus, mamãe entrou se assentou do lado dela e a cumprimentou desejando um bom
dia…

Fiquei com vontade de dar um abraço nessa enfermeira… eu
estava começando ali uma colheita de tudo que mamãe plantara durante sua
caminhada por aqui…

 

As quatro gerações vó Antônia, mamãe, eu, Alberto e Renato – no colo da bisa

Esse poema com o qual iniciei o texto, é de sua
autoria.  Lendo-o e revendo toda sua
história aqui resumida, vejo que ela conseguiu, na sua oração final. E não só
Mãe, mas um excelente Ser Humano que procurou somente acertar.

                   … Senhor,
                    A mãe que eu
gostaria de ser, sei que nunca vou conseguir.
                   Não me deixes, Ó
Deus, esmorecer,
                   Mas apenas Mãe me
sentir.
                                                                                                                                                   
Karol/ Jundiaí-2016

 

 

Tivemos  um prazer enorme de reviver um
pouco da historia dessa pessoa maravilhosa que foi a  Prof Yonne
Fantazzini, amada por todos , uma família exemplar e profissional inesquecível
do Instituto P Gammon. Muito obrigada à sua filha Karol Salun , que gentilmente
escreveu sobre a querida mamãe para os meus leitores.

Obrigada, Um abraço aos filhos , nora, genro e
netos.

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