Pesonalidade Gammonense – Enock Santana

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Em visita à cidade de Lavras-MG, para as festas dos 150 Anos do Colégio Gammon, conheci, por meio do amigo Ronaldo Lopes, Dalva Sueli, que me perguntou se não gostaria de falar da minha história naquele Colégio, e por que não em Lavras…topei a parada. Vamos lá!

Enock Santana

Tudo começou depois de tomar duas bombas na primeira série ginasial em Ibiá-MG, minha terrinha gostosa. Filho de família evangélica, oriundos de Rio Paranaíba-MG, mistura de Rocha, Sant’Ana, Ribeiro e Borja, muitos desses com passagem pelo Gammon. Também minha mãe fez curso de evangelização em Patrocínio-MG no Instituto Eduardo Lane, que já é uma raiz forte de Gammonense.

 Como ia fazer pela terceira vez o primeiro ginasial, meus pais resolveram me mandar para o internato, que àquela época era local para consertar meninos rebeldes. Assim, escreveram para o Gammon, conseguiram uma vaga e lá fui eu para Lavras. Viajamos eu e meu pai, de mixto o dia inteiro, (tinha vagões de passageiro e de carga diariamente, parava em todas estações para descarga).

 Naquela época também havia outra modalidade de viagem que era o noturno: mais rápido, mais confortável, tinha vagões- restaurante,  leito e não transportava carga,  mas era dia sim, dia não e em ambos tinha uma baldeação em Garças de Minas, uma estação, enorme tronco entre Belo Horizonte/Goiás/ sul de Minas- município de Iguatama. Ocorre que durante o dia ou à noite era o terror: podia-se contar com batedor de carteira, perda de bagagem… no entanto,  era muito “chic” para a  época, tinha gente que usava até “guarda pó” para proteger-se da poeira .Esse  transporte ferroviário era oferecido pela Rede Mineira de Viação (RMV) também conhecida popularmente  por “ruim , mas vai”…

Voltando ao dia de nossa partida para Lavras, saímos às cinco da manhã e chegamos à Lavras às onze da noite, dormimos no Grande Hotel (construção antiga como várias outras), localizado à Praça central. No dia seguinte, fomos ao colégio fazer a matrícula, conhecer a nova morada… tudo pronto! Assim meu pai pegou o mixto de volta e começava ali um pedaço na minha vida que ficou marcada pelo Gammon e por Lavras…

Enock, à esquerda na fanfarra do IPGAMMON

Isso era 1963, tinha acabado de fazer 13 anos, sem nunca ter ficado longe dos meus pais. Baixinho, fui encaminhado pelo o Sr. Daniel, Diretor do internato para o dormitório ZERO, que era ao lado da casa do Professor Sinval, hoje Memorial do Gammon, regido pela Dona Maria Freire.

Tudo estava muito bem, até que no final de semana me envolvi numa briga com dois irmãos gêmeos veteranos, por não deixarem os calouros participar do jogo de ping-pong. Aí começamos a conhecer Sr. Daniel e eu, um castigozinho… e depois …amigos.

No internato, ficar preso e vigiado o tempo todo não existia, falaram uma coisa e a realidade era outra, podíamos sair na Pracinha em frente e nos finais de semana ir ao cinema e fazer footing no centro da praça e chegar até às dez da noite, era tudo de bom, muita gente , só alegria…

Hummm, tinha o bonde, quem não teve história nele? Lembro do Humberto Franco (Tiguela) de São Gotardo, batendo a cabeça no poste para fugir do cobrador…recordo-me ainda dos nossos colegas calouros que vinham de outras regiões e por não conhecerem a fruta jabuticaba,  faziam a festa na horta atrás do refeitório, eram muitos pés…  

Outro fato marcante também foi a chegada da televisão, aos poucos…com isso, depois  passamos a assistir alguns programas, jogos de futebol , mas nessa época estava na moda o rádio de pilha portátil marca Semp, Mitsubishi (tenho até hoje) e outros para assistir jogos, noticias esportivas e ouvir as programações da Rádio Cultura..

Não posso deixar de fazer referência também ao Turco (do Bar do Turco) narrando os jogos do Fabril, olímpica, ferroviária… e aos lanches que fazíamos na sua lanchonete, um obrigado à família, quanta lembrança boa!

Wilson Crepaldi, Marcos Mesquita, Machado, Aquiles, Erasto (Já falecido)
Agachados: Enock, José Antonio (Pato Roco), Leite, Tadeu e Mané Boiadeiro (Poconé)

Outra coisa boa era a convivência no refeitório, tanto na espera para entrar com aquela fome danada e ainda ter que esperar o Joaquim abrir a porta e ouvir todo mundo falar ao mesmo tempo “primeiro na sobra do bife”, às vezes uma oração que não acabava nunca…como na saída tranquila após a refeição de barriga cheia…Tinha também o dia de cantar “o feijão tá queimado”… a campainha soava e lá vinha o Senhor Daniel dar aquela bronca…

Aos domingos, depois do café da manhã,  tinha a hora do culto dominical no Auditório Lane Morton, onde cantávamos hinos do Cancioneiro Gammonense com leitura e estudo bíblico; em seguida,  havia os famosos jogos das torcidas do Santos ou Corinthians contra o resto… ou torcedores dos times cariocas contra os paulistas, era sempre muito disputado e gerava muita conversa e reclamação principalmente contra o juiz, sempre terminando em paz.

 O convívio com os colegas externos também era muito bom: sempre muito hospitaleiros e companheiros, tanto nas atividades escolares, como esportivas. Lembro-me que os campeonatos eram organizados pelo saudoso professor Lima, nosso comandante e amigo de todas as horas…  ah! Os jogos estudantis de Lavras sempre terminavam com uma final entre Gammon X Aparecida no masculino, ou Lourdes, no feminino.

Anualmente comemorávamos o aniversário do Gammon e as festas, sempre muito bem preparadas e estruturadas, contavam com desfiles dos alunos e de  atletas, tocha olímpica, palavras sábias e eloquentes na abertura, proferidas  pelo Professor Bi Moreira,  e ainda havia competições com Colégios de outras cidades e  assistíamos  sentados naquele “barranco”, depois substituído pela arquibancada hoje existente.

Também vêm a minha memória a presença de duas pessoas que eram muito populares e alegres: o Black, que  era quem batia o sinal  para começar e terminar a aula  e o outro era o Joaninha,  que estudava e trabalhava na “Elizéia”; este distribuía,  recolhia e cobrava as bolas na hora de fechar o expediente esportivo… ambos  sempre alegres e amigos de todos.

No Colégio Gammon tudo funcionava bem sob a liderança do Professor Roberto Coimbra com sua equipe: Professor Sinval, Dona Martha, Louzada, Maria Adélia, Valdir, Jeová, Renato, Pereira, Salmo e outros tão amigos e competentes!

Lembro-me também do Senhor Ademar que era o secretário do Colégio e pai do Sérgio cabeleira, que fazia parte da patota.

Salvo engano, no ano de 1963 foi o ingresso de estudantes do sexo feminino ao campus que   funcionava na chácara, fato este que trouxe  mais alegria  para todos nós!

Também pela minha memória passeia a história do boletim … tão esperado ou temido, mensalmente ou bimestralmente era enviado pelo correio, às vezes com os parabéns do Diretor e no final do ano com a palavra APROVADO.

Em 1966, recebendo das mãos do Dr.Almir de Paula Lima seu diploma no ginasial.

 Como éramos muitos alunos que voltavam de trem, fretávamos um vagão só para nós e cada um ia ficando no seu destino para aproveitar as férias com as famílias e esperar pelo reencontro no ano seguinte.

Diante de tantas recordações, afirmo que éramos muito felizes… conforme bem diz o Almir Satter, na sua música Tocando em frente: “cada um de nós compõe a sua história”; e a vivência no  Gammon nos proporcionou “amor pra poder pulsar, paz pra poder sorrir e chuva para florir”…

Assim, cada um de nós tem sua história no Colégio, em Lavras: as amizades, namoradas, a formação para o trabalho, a cidadania,  aprendizagens  de vida  e quantos não se casaram e ficaram mais lavrenses ainda…

Para mim e quem sabe para outros também, a ida para o internato no Gammon pode ter soado num primeiro momento como castigo, mas foi um divisor de águas, ao começar ali uma formação de caráter e respeito, pautados em uma proposta cristã, que soubemos aproveitar nessa passagem para uma vida futura… Fica aqui o meu registro acerca da importância desse Colégio na vida de uma criança, de um adolescente… que privilégio ter usufruído disso! Quão afortunados somos nós Gammonenses!

 Hoje, cada um no seu canto, depois de mais de 50 anos, seguimos a vida “tocando em frente”, ainda mencionando o Almir Satter, “todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega e no outro vai embora”… mas nessa caminhada, tivemos a felicidade de rever, estar juntos, conhecer outras gerações, abraçar e trazer esse tempo de volta nos 150 Anos do Instituto Presbiteriano Gammon…revivendo assim a nossa história…

Tivemos também a dádiva de cantar e dividir momentos com as famílias, orgulhosos por vencer esses anos com tantas bênçãos alcançadas! Foram dias maravilhosos, festa da grandeza do Gammon de encher os olhos e nunca ser esquecida…

 Aos organizadores, nossos parabéns pelo trabalho, dedicação, entrega e a certeza de que o nosso lema continua vivo: “DEDICADO À GLORIA DE DEUS E AO PROGRESSO HUMANO”.

Que venham outras gerações, que alcancemos o progresso humano, mas que nunca nos esqueçamos, assim como menciona o nosso lema, que a Deus sejam dadas toda honra e toda glória… “Porque d’Ele e por Ele, para Ele são todas as coisas… A Ele a glória, para sempre e amém”!(Romanos 11:36)

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