A hora do desespero

Por Diego Nascimento

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São quase duas da manhã. Jack acorda com um barulho vindo do andar de baixo, provavelmente da cozinha. O coração bate mais forte em meio ao quarto escuro e abafado. A primeira decisão de Jack é virar para o lado e certificar que Karen, sua esposa, está bem. Após vê-la em sono profundo, Jack toma coragem e começa a dar passos silenciosos em direção à origem daquele som incomodo. Ainda traumatizado com a onda de crimes que aterroriza seu bairro, Jack percebe uma luz fraca enquanto desce cuidadosamente as escadas. A respiração ofegante e o suor frio já são companheiros de Jack desde a saída do segundo pavimento. Após 5 minutos de um percurso quase que interminável, o devotado marido alcança a cozinha e, para a sua surpresa, o barulho é o galho da árvore batendo na janela perto da pia; o resultado dos ventos noturnos ofertados pelo verão. Mas ainda havia a luz que, naquela altura, Jack sabia que partia do escritório. Ao chegar lá, a surpresa: o computador havia sido deixado ligado, possivelmente por Karen, que insiste em levar trabalho para casa alegando se “sentir melhor.”

Antes de desligar o equipamento e retornar ao descanso, Jack observa que sua caixa de e-mails possui uma nova mensagem. Ansioso desde a infância, ele decide ler o correio eletrônico. A partir desse momento, nosso personagem sente uma queda instantânea de pressão arterial, seguida de espanto e medo. Um verdadeiro filme passa por sua mente e o que ele acaba de ler traz arrepios e uma total insegurança: Jack, que no momento desse relato aproveita alguns dias de férias, é alertado via e-mail por um colega de escritório que seu nome foi escolhido para representar a empresa durante um evento nacional e que ele (Jack) deveria ministrar uma palestra aos investidores. Isso mesmo: uma palestra! De repente, Jack abre os olhos sob o chamado doce de Karen: “O café da manhã está pronto” e percebe que tudo não passa de um pesadelo.

Garanto que pensou que o artigo de hoje seria mais um capítulo daquelas séries investigativas, certo? Na verdade, meu objetivo é mostrar que nos momentos mais imprevisíveis somos desafiados a enfrentar nossos medos. No caso de Jack, o trauma que envolvia o “Falar em Público” trouxe uma instabilidade emocional que afetou o seu próprio sono. Mesmo sendo uma referência entre os departamentos, ele tinha pavor da oratória e raramente assumia o desafio de falar (até mesmo em discursos de aniversário). O que dizer de uma palestra? Um evento em terra estranha e com pessoas que ele jamais havia visto?

Já ministrei vários cursos de oratória. No rol de alunos havia vendedores, estudantes, advogados, profissionais da saúde, professores … e outros profissionais que mesmo colecionando diplomas e certificados entenderam que poderiam ampliar ou desenvolver as habilidades de comunicação diante de outras pessoas, seja em situações formais ou informais. Conhece alguém assim? Sua resposta é um sonoro SIIIIM! Mas como solucionar esse grande dilema que não escolhe idade, status social ou endereço? Registrarei aqui cinco pontos para que possamos refletir juntos:

1) Reconheça que o verbo ‘aprender’ está sempre vivo nas pessoas nobres. Buscar ajuda não é fraqueza, mas sinal de humildade e foco em melhorias;

2) Invista em leitura: além da construção de um bom vocabulário os livros proporcionarão ideias, conceitos e um amplo conteúdo que enriquecerá seus argumentos;

3) Crie oportunidades de fala: incentive diálogos em que você possa opinar respeitosamente;

4) Comece a falar com o espelho. Isso mesmo: o espelho. Nele você perceberá a importância do olhar para uma comunicação efetiva;

5) Se qualifique.

Os itens acima são um ponto de partida. É evidente que um treinamento em oratória envolve técnicas de postura, vestimenta, apresentação de materiais, tom de voz, etc …, porém, uma boa base emocional e reflexiva facilitará e muito o exercício do “Falar em público.” Compartilhe o que aprendeu e não seja como Jack. Ele abandonou grandes chances de vencer essa barreira e, constantemente, se depara com a hora do desespero!

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